terça-feira, 3 de abril de 2012

FOTOGRAFANDO GAVIÕES - SORTE OU PERSISTÊNCIA?

Muitas pessoas quando vêem uma foto maravilhosa de alguma ave de rapina ou mesmo de algum animal selvagem em pleno momento de ataque e captura da sua presa, pensam assim: " Este cara (fotografo) deu uma sorte, estava no momento certo e no local certo!"
É claro que isso acontece as vezes, mas acredito hoje que na maioria dos casos o que houve foi resultado de muita persistência , aliada a técnica, planejamento e um olhar super aguçado.
Quando tive meu primeiro contato com alguns exemplares de Gaviões-Caramujeiros (Rostrhamus Sociabilis) fiquei a principio super empolgado com algumas fotos feitas na ocasião, todas devo admitir, fruto de muita sorte.



Analisando as mesmas posteriormente e pesquisando mais sobre este assunto, pude verificar que estavam muito aquém daquilo que poderia ser classificado como uma foto exemplar.
Resolvi então em primeiro lugar saber mais sobre o objeto de minha atenção e comecei a pesquisar sobre esta especie, usei os canais disponíveis como o WikiAves e alguns blogs de Observadores de Aves.
Após me informar sobre o comportamento desta ave, como se alimenta, qual seu alimento preferido, horários de maior atividade, forma de caça, hábitos familiares, etc, pude então planejar melhor as minhas visitas ao local onde havia antes encontrado estes indivíduos.
Descobri por exemplo, que são mais ativos nas primeiras horas da manhã e que se alimentam quase que exclusivamente de um tipo de Caramujo de água-doce, abundante na lagoa visitada e que embora convivam em pequenos bandos nestes locais, são (como quase todas as aves deste gênero) muito ariscas a presença humana.
De posse destas informações parti então para a cidade de Iracemápolis ainda de madrugada e cheguei ao local por volta de 6:00 h da manhã, um pouco antes do amanhecer.Meu plano era me posicionar as margens da lagoa antes que as aves se tornassem ativas e portanto não percebessem a minha chegada ao local.
Não sei se isto procede mas percebi que os 2 indivíduos que lá estavam (2 fêmeas) não pareceram se importar com a minha presença e logo começaram a fazer pequenos vôos circulares e capturar suas presas.



Fiquei por ali algumas horas e fiz dezenas  de fotos, percebi que suas investidas foram diminuindo gradativamente conforme o Sol subia no horizonte e a temperatura aumentava.Os vôos curtos e circulares foram dando lugar a trajetórias mais longas e totalmente embaralhadas, além de ter constatado que devido a posição do Sol mudar e a minha não (fiquei parado na mesma posição por algumas horas), sempre que mergulhavam acabavam por ficar de costas para mim.Conclusão...hora de parar por hoje!
Descarreguei as fotos no PC e constatei uma verdade Universal...o visor da câmera SEMPRE nos engana!
Algumas fotos que no momento pareciam ser dignas de prêmios internacionais acabaram por se revelar medíocres e cheias de problemas técnicos.
Novamente muita analise e pesquisa, agora não apenas sobre o animal, mas também sobre o equipamento usado.Fotografar com flash ou sem, alcance efetivo do mesmo, aumento de ISO, foco automático ou manual?
Com novas informações voltei ao local no mesmo horário da vez anterior, corrigi a minha posição já prevendo o movimento do Sol e levei na bagagem o Flash (580 EXII) e um Better-Beamer (Flash Extender).Quando o dia clareou tive uma surpresa bem em frente ao local onde parei, na margem oposta havia um pescador escondido no meio dos juncos (parece que ele teve a mesma ideia que eu!!!)
Desta vez os Gaviões (nesta ocasião eram 3 indivíduos) não ficaram muito confiantes e demoravam muito entre uma investida e outra, reduzindo muito a oportunidade de fotografa-los.
Ainda assim pude testar o uso do Flash e do Better-Beamer, que neste caso se mostraram muito eficientes, conseguindo um ganho considerável  na abertura, imagens perfeitamente nítidas e congeladas.




Pude constatar algo que me intrigou e fez com que perdesse excelentes fotos e diz respeito ao Autofocus da Câmera.Trabalho com uma Canon 5D MarkII, Objetiva Sigma 120/300mm f:2,8 e um TC Sigma 2x e para situações menos extremas, como fotos de animais movendo-se devagar ou parados nunca tive grandes problemas, até porque sempre uso o tripé devido ao peso do equipamento, mas nesta situação o auto-focus mostrou-se lento e ineficiente.Consultei alguns amigos e uma assistência técnica que me deram a triste noticia de que isto é mais comum do que eu esperava, em se tratando de Canon X Sigma!
Parece que SEMPRE existe alguma incompatibilidade entre os equipamentos destas marcas.Será mesmo???
Resolvi fazer novos testes, agora com outras câmeras da marca e voltei ao local mais 2 vezes, primeiro com uma Canon 60D e depois com uma Canon 7D.
O sistema de foco da 60D é o mesmo da MarkII mas neste caso ficou ainda mais lento, sendo que em alguns momentos ficou impossível conseguir focar os animais.Aproveitei o fator de crop de 1,6x e fiz as fotos com o Foco Manual, perdendo infelizmente o registro de momentos excepcionais.

Foto feita com a Canon 60D com foco manual, o momento em que disputavam o alimento em pleno vôo.Infelizmente o foco não ficou perfeito.
No teste feito com a Canon 7D a decepção foi ainda maior, pois o sistema de foco desta câmera é considerado um dos melhores existentes, mas que nesta combinação não se mostrou nada eficiente.Em modo auto-focus não consegui nenhuma foto e apenas trabalhando com foco manual auxiliado pelo crop de 1,6x que "transformava" minha lente em 960mm pude captar algumas imagens.



Novamente com a MarkII e de posse de todas estas informações pude captar mais algumas imagens, um pouco melhores mas ainda não no nível que gostaria.Agora tenho consciência das limitações de meu equipamento e sei exatamente onde devo investir caso pretenda mudar esta situação.



Para mim Sorte é o resultado de você saber exatamente aquilo que deseja e direcionar todas as suas energias e atenção no mesmo ponto e isto é para mim uma forma de dedicação com persistência, portanto ambos (sorte e persistência) são manifestação de uma mesma verdade.Sempre andarão juntas!